Vida de artista em in�cio de carreira n�o � nada f�cil. Basta contar quantas vezes uma banda desconhecida passou por situa��es constrangedoras nos shows, como um defeito no som ou a vaia de uma plat�ia – e, o pior – formada por meia d�zia de familiares. Voc� ouviria um disco de um conjunto chamado Atahualpay us Panquis? “Ela foi criada em 1984 para ser a pior banda do mundo”, brinca o ex-l�der Carlos Miranda. Conseguiram, talvez, pelas 12 c�pias que venderam nos seis anos de exist�ncia. “Mas o pessoal gostou do som”, ressalta.
Hist�rias como essas fazem parte do hall de aventuras que os m�sicos colecionam e n�o se envergonham de contar. Mas, os brasileiros que buscam a consagra��o n�o querem apenas os 15 minutos de fama cantados pelos Tit�s, mesmo que a recompensa venha depois do sacrif�cio de se expor num a�ougue, por exemplo.
A banda carioca Totonho e Os Cabra, que lan�ou o primeiro CD com selo da Trama, vai al�m do estere�tipo de roqueiros e inova na busca de f�s, se apresentando em lugares pouco comuns. Quem passou recentemente por uma rua da Gl�ria, na zona sul do Rio, num final de tarde, ficou boquiaberto com a cena. Quatro m�sicos e seus instrumentos se espremiam por tr�s de um balc�o de a�ougue, entre freezers e carnes dependuradas, al�m de uma tabela de pre�os fixa na parede, onde se lia – entre outras coisas – ch� de dentro a R$ 15 .
Engana-se quem julgou exagero. A banda, claro, n�o fez o estilo m�sica-pra-afugentar-fregu�s, e conseguiu atrair os pedestres para o estabelecimento. “O pessoal gostou tanto que o dono do a�ougue fechou o com�rcio s� para o nosso show”, conta o feliz vocalista Carlos Bezerra, o Totonho, de 37 anos, lembrando que o evento rendeu um especial na MTV.
A pr�xima parada ser� no alto de um pr�dio em constru��o. N�o, eles n�o v�o pular para impressionar os oper�rios. Mas, j� houve quedas, bem menores, como da vez em que o baterista caiu de cima dos engradados improvisados como palco, durante as comemora��es do anivers�rio da R�dio Mar�, numa comunidade carente do Rio. Os ouvintes ovacionaram. N�o se sabe se pelo tombo ou pelo repert�rio.
Enquanto o internacional Milton Nascimento canta Pelos bares da vida, narrando sua dura trajet�ria em busca de um lugar nos palcos, os m�sicos da banda mineira Corpo Delito sentem a poesia na pele. Os seis anos de estrada renderam bons casos que engrossam a lista humor�stica da conviv�ncia em grupo. O �ltimo foi no r�veillon deste ano, numa estrada de ch�o rumo a uma pequena cidade em Minas. “Chovia muito e o carro ficou atolado. Tivemos que descer e empurr�-lo. Na correria e com medo de ficar novamente atolado, acabei deixando o tecladista e o baterista para tr�s”, diz o mui amigo Z� Wilson, l�der da banda.
O show ficaria comprometido n�o fosse o empenho dos abandonados, que caminharam dois quil�metros sob chuva e chegaram a tempo da apresenta��o. E quem acha que depois da tempestade vem a bonan�a, enganou-se. O descanso foi um desastre: uma cama de casal na casa de um amigo teve que suportar quatro homens.
Parece pouco? Em outra apresenta��o, o Corpo Delito safou-se de uma vaia, quando o vocalista pediu o coro da plat�ia numa m�sica do Spin Doctor�s. “Houve um sil�ncio constrangedor”, revela Z� Wilson. A salva��o veio de uma voz cansada, l� do fundo do sal�o, que completou os versos num ingl�s desengon�ado. Era o gar�om, f� da banda americana.
Famosos – Hist�rias como essas, no entanto, fazem parte do cotidiano de quem almeja a fama. Prova disso foi o que passaram os Raimundos, quando partiram de Bras�lia para S�o Paulo, onde gravaram o primeiro disco, em 1993. “O pessoal ficou l� em casa, espalhado pelo ch�o”, lembra Carlos Miranda, que produziu a banda.
“Quando os t�xis chegaram, eu fiquei sem fala”, diz Miranda. O quarto-sala do produtor teve que acolher os m�sicos, o t�cnico de som, o motorista, um ajudante, dois amigos e duas mulheres. “Foi uma semana sem luz na sala e com muito mosquito”, recorda. Como se n�o bastasse, faltou luz no est�dio no dia da grava��o.
O escritor Luis Fernando Verissimo tem a literatura como profiss�o, mas foi no hobby do jazz – sua outra paix�o – que tornou-se protagonista de um epis�dio que todo m�sico teme: cair do palco. No final da d�cada de 80, tocando na banda dos irm�os Caruso, eles combinaram de entrar no palco �s escuras. Verissimo errou o caminho e fraturou um dos joelhos na queda. “O mais engra�ado � que, de todos eles, eu era o �nico que n�o tinha bebido antes do show”, lembra o escritor-m�sico. “Na queda, cuidei de cair de um jeito para salvar o sax, e sobrou para o joelho”.
Naquele momento, pesou a desvantagem da presen�a de humoristas no palco. Quando Chico Caruso anunciou o incidente e pediu um m�dico, foi uma epidemia de aplausos e gargalhadas na plat�ia. Apesar de tudo, realizaram o espet�culo.